quarta-feira, 24 de outubro de 2007

ANSIOSA

Escrever ajudou o tempo a passar, a paciência do computador também e agora só faltam 17 minutos para eu ter uma resposta muito, muito importante e decisiva na minha vida. Confio em Deus, acredito na vida, sei que ela tem sempre razão, mas devo confessar, o dia está ansioooooso e eu uma pilha. Bem carregada.

Sem palavras

Eu tinha tantas coisas pra contar, muitos acontecimentos que eu gostaria de comentar. Acho que faltou coragem, disposição, inspiração para sentar e começar. Às vezes eu sou assim, preguiçosa. O tempo passa e as coisas acabam perdendo o sentido.

Há algumas semanas li um livro maravilhoso, "O monge e o executivo" e, vejam só como eu sou. Final de 2006, estava com uma amiga no shopping quando entramos em uma livraria. Lá pelas tantas ela me apontou o livro e disse "é ótimo" e eu o comprei. Pois não é que só o li agora, quase um ano depois?!

Aprendi com essa leitura uma fórmula mágica. INTENÇÃO - AÇÃO = NADA; INTENÇÃO + AÇÃO = VONTADE. De que adianta eu ter a intenção de escrever e não o fazer? Preciso agir para fazer acontecer. E comecei a pensar sobre mim mesma. Quantas vezes não me senti injustiçada porque estava cheia de boas intenções? Tantas vezes deixei de ligar para amigos nos dias de seus aniversários, mesmo lembrando! Mas, eu me permitia fazer isso, afinal TINHA a intenção de ligar e pra mim isso bastava. Confesso que lendo o que estou escrevendo dá uma vergonha, um sentimento ruim em relação a mim mesma, sabe?

É tão difícil reconhecer nossos defeitos, por mais que saíbamos o que está errado. Sempre escutei as pessoas falarem que eu sou muito calma. Foi assim na minha formatura de jornalismo. Nossos oradores citaram cada um dos formandos junto com um adjetivo. "Laura e sua calma" foi o que ouvi quando chegou minha vez. Semana passada, durante o trabalho, uma colega que acabara de me conhecer disse: Laura você é bem calma, não é? E ontem, numa conversa no msn, com uma amiga/noiva/virtual (que nem me conhece), li a pergunta "Laurinha vc é bem calma, né?"

E aí eu tô me perguntando será que essa calma toda é uma coisa boa? O que será que estão me dizendo com isso? Que eu sou demente? Que não me importo com as coisas? Que não dou a devida atenção que o momento merece? Que sou desleixada? Ou será que sou uma pessoa segura? Que transmite paz, tranquilidade? Que sabe o que está fazendo? Eu confesso que não sei, mas sei que venho negligenciando muita coisa e talvez seja isso o que muita gente esteja traduzindo como "calma".

E eu não quero isso, independente da resposta, eu não quero ser uma "pessoa calma", até porque isso não traduz a verdade do que se passa com meu coração. Sou extremamente ansiosa, crítica, chata, detalhista. E se eu não dou gritos quando ainda tem uma matéria sendo editada para um jornal que já está no ar é porque eu sei que gritos não vão ajudar e também porque confio na responsabilidade de quem estar cobrindo as imagens. Talvez seja aí o ponto em que esteja errada... vai saber?!

Momentos de reflexão, de olhar mais pra dentro, de me conhecer e melhorar. Como pessoa, como mulher, como profissional. Muitos outros textos sobre essa minha introspecção estão por vir, estejam certos disso.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Laura e o Rato Desgosto

Como todas as manhãs, Laura abriu o armário para tirar um vestido. Que horror! Adivinha o que encontrou escondido no fundo? Um grande rato dos esgotos, que ria com todos os dentes. Laura quis gritar, chamar os pais, mas o grande ratão preveniu-a, apontando-lhe um revólver à testa:

— Se gritares, mato-te. Se me denunciares, desfaço-te.

Então, Laura fechou a boca a cadeado, assim como o armário e todos os sentidos do seu corpo.

Ela bem queria pôr um cadeado no armário e esquecer, mas, todas as manhãs e todas as noites, o rato gordo dos esgotos batia na porta com a cabeça, até ela a abrir.

À noite, todos os dias, ao abrir a porta para se vestir ou despir, lá estava o rato gordo. Laura despachava-se a tremer, mas não se atrevia a dizer nada. Por quê? Talvez porque o rato grande dos esgotos não fosse criança e se deva obedecer às pessoas crescidas, mesmo que sejam dos esgotos, não é verdade? Era o que Laura pensava.

Uma noite, o rato disse-lhe, com olhos terríveis:

— Quero ser o teu ursinho. Dá-me um beijo de boa-noite, se não, levas uma palmada.

Então Laura chorou, mas deu-lhe um beijo, o que achou horrível. Só que ela já não sabia muito bem o que era horrível e o que era agradável, porque, como já disse, ela tinha fechado, trancado e bloqueado tudo dentro dela. O rato estava, evidentemente, todo satisfeito, e disse, enquanto fumava o seu charuto:

— Todas as noites vens dar-me o meu beijo, minha linda. Assim quero e assim tem de ser.

O grande rato dos esgotos exigia coisas do arco-da-velha.

— Olha — dizia ele — lava-me estas peúgas fedorentas e põe-nas a secar. Quero todas as tuas bonecas. Aborreço-me aqui sozinho dentro do armário.

Um dia, o rato disse-lhe:

— Traz-me um bombom. Traz-me o teu bolo de arroz e as tuas batatas fritas.

E Laura lá lhos levou. Deu-lhe também os seus copos de leite, o lanche, o jantar e tudo o que ela comia de manhã, à tarde e à noite.

Um dia, pediu-lhe o sono, depois, os seus lindos sonhos cor-de-rosa. Quando se é rato de esgoto, só se tem sonhos horríveis. Ele deu-lhe os pesadelos negros e ela deu-lhe os seus sonhos cor-de-rosa.

Os pais de Laura começaram a ficar preocupados porque a viam emagrecer e perder o sono, sem saberem que Laura dava tudo ao rato grande e cinzento dos esgotos. (Laura pusera-lhe o nome de “Rato Desgosto”)

Certo dia, quando estava já muito magra por não comer nada e entregar tudo ao rato, Laura soube que, se não falasse, algo de grave lhe podia acontecer. Então disse à mãe:

— Mamãe, tenho uma história para te contar. É a história do rato Desgosto.

Contou-lhe toda a história. A mãe ficou horrorizada e chorou todas as lágrimas que Laura tinha contido desde que decidira pôr a carapaça e fechar-se. Fez muito bem às duas.

Naquela noite, quando abriu a porta do armário, Laura viu que o rato tinha desaparecido e só lá tinha deixado as peúgas, aquelas que Laura tinha lavado. Eram tão pequeninas, que Laura franziu o sobrolho.

— Não pode ser! O rato Desgosto tinha uns pés assim tão pequeninos… afinal era minúsculo!

Ela que pensava que ele era tão grande e que nada podia contra ele! Afinal, bastou falar à mãe para ele desaparecer do armário, sem pedir mais nada. Era mesmo um rato nojento, mas que agora já não lhe fazia medo nenhum.

— Vês, Laura — disse-lhe a mãe. — Quando alguém te pedir alguma coisa, tens de te perguntar a ti própria, bem no fundo, se queres. Se alguma coisa em ti te diz que estás a ser forçada, ou que magoam o teu corpo, não deves obedecer, pelo menos antes de falares a alguém sobre isso. Mesmo que seja um Marciano, um rato dos esgotos, um crocodilo… mesmo que seja uma pessoa importante.

E ainda lhe disse:

— Se amanhã vires alguma coisa no armário, por favor, diz a um adulto. A mim, ao pai, à madrinha, à professora… a quem quer que seja! E, se alguém te ameaçar na rua, pede socorro a um adulto, entra numa loja ou noutro sítio qualquer. Nenhuma criança deve submeter-se a um rato do esgoto. Percebeste, minha querida?

— Sim — prometeu Laura, tranqüilizada com esta promessa.

Nessa noite, Laura recuperou o bolo de arroz, os bombons, o seu ursinho, as batatas fritas. E o seu bom aspecto. Infelizmente durante algum tempo, ainda continuou a ter os antigos pesadelos negros, cheios de ratos dos esgotos, de ratinhos e de ameaças. Porque o ratão Desgosto tinha-lhe roubado alguns dos seus sonhos cor-de-rosa. Precisava esperar algum tempo para recuperá-los.