sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Tá na Clube, Tá bom demais.

Eu ando sofrendo uma pressão danada da família para fazer um concurso público. "É mais seguro, o salário é melhor, não dependo dos outros", blá, blá, blá. Sei de tudo isso e não tenho como contestar a veracidade dos argumentos. É fato. Mas não é o que eu quero. Pelo menos nesse momento da minha vida.


Sei que a pressão aumentou muito depois do curso de direito, mas essa semana me dei conta que passei cinco anos na faculdade muito mais pra agradar do que porque realmente queria. Foi bom e não me arrependo. Para um jornalista todo conhecimento adquirido é lucro, na verdade para qualquer ser humano. Gostei do curso, adorei algumas pessoas que conheci, agucei - e muito - meu censo crítico, aprendi tanto sobre direito e cidadania que, só por isso, já teria valido a pena.


Mas, definitivamente o mundo do direito não me pertence. E isso eu posso falar. Além de ter convivido diariamente com o assunto e com pessoas da área, durante o curso inteiro meu único trabalho foi na assessoria de imprensa da Escola Superior da Magistratura de Pernambuco, a Esmape (onde até hoje trabalho). Fiquei quase quatro anos completamente afastada de jornalistas e da redação. Fiz alguns poucos amigos na faculdade porque na maior parte do tempo me sentia um peixe fora d´água. Coisa de afinidade mesmo.


Terminei a faculdade e me recusei a passar no exame da OAB. Não toquei num livro, não procurei saber se quer o período de inscrição e por duas vezes quase perdi o prazo (fiz no último dia). Na verdade eu simplesmente não queria passar com medo que isso me afastasse mais uma vez do jornalismo. Auto-boicote! Aff!!!


Trabalho das sete da manhã ao meio dia como assessora de imprensa da Esmape, trabalho nem sempre estimulante, especialmente por não conseguir conviver com as pessoas, mas isso é assunto para outro post. É lá também onde faço pós-graduação em direito civil e processo civil. Passo as aulas me perguntando que diabos estou fazendo ali. Fico olhando aquelas juízas tão novas e "poderosas", suas roupas da moda e seus acessórios carérrimos e penso que se tivesse sido um pouco mais inteligente nunca teria entrado nesse vício que é o jornalismo, não teria experimentado e, aos 22 anos, poderia ter me tornado juíza. Hoje, aos 31, poderia ter meu apartamento, meu carro de luxo, já conheceria a Europa e provavelmente já seria casada e mãe de um casal de filhos.


Não fiz isso. Entro muda e saio calada da sala de aula. Só abri a boca numa aula em que o professor de didática do ensino superior (por sinal a única cadeira que gostei até agora) obrigou a todos a se apresentarem e falar em que trabalhava. "Sou jornalista" foi a única coisa que consegui afirmar com certeza. O que eu pretendia com o curso, o que eu esperava da disciplina... Essas ficaram até hoje sem resposta. Na aula seguinte a única pessoa que fala comigo me disse: você é jornalista, não é? A pessoa com o perfil mais diferente da turma". Então, tive mesmo a certeza que aquilo ali não é o meu lugar.


Não casei (ainda), não conheço a Europa (ainda), (ainda) estou pagando meu carro - por sinal hoje paguei a 33ª parcela das 36 -, não comprei (ainda) meu apartamento, mas AMO o que faço, ADORO meu trabalho, faço com alegria mesmo não tendo um feriado de descanso, mesmo com os estresses do deadline, mesmo com os ataques de Eduardo*, mesmo com as 14 horas de trabalhos diárias para consegui ganhar o que ganha um servidor público de nível médio. Isso tudo é reflexo da escolha que fiz acertadamente há 13 anos.
Jornalista pobre, mas muito FELIZ.




* Eduardo é o Bandeira, editor e apresentador do Jornal da Clube, do qual também sou editora. Ele está de férias, mas já estou com saudades dele. "Brigamos" todos os dias, reclamo dele todos os dias, mas como ele mesmo antecipou "você vai sentir falta"...


** Tenho muito a agradecer a Ana Menezes, minha chefe desde estagiária e que me deu a oportunidade de voltar a atuar na área. Às vezes discordamos, mas a ela serei sempre leal e deixo aqui o registro do quanto admiro a pessoa que ela é. Aninha, muito obrigada!!!

Um comentário:

BETA FERNANDES disse...

Laurinha,

hj com os meus 32 anos já aprendi que o importante na vida é simplesmente ser FELIZ e fazer somente o que gostamos, mesmo que a gente não ganher $$$ :-)

FELICIDADES SEMPRE :-)