segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um Cara legal

Eu já estava acostumada a escutar a voz dele. Era um convívio diário há quase três anos. O tipo de coisa que te faz sentir próximo. Até que um dia ele apareceu no meu trabalho. Nem precisei ser apresentada. Pelo "bom dia" eu reconheci. Não esqueço o olhar tímido e doce. Também meio tímida, expliquei a ele como funcionava o telescript. Mostrei a agenda e indiquei o contato de São Paulo com quem sempre poderia falar para pedir as gerações. E a indefectível frase: " se precisar de ajuda é só chamar".
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Durante todo esse ano me acostumei a vê-lo pelo menos umas duas vezes por semana. Sempre na ilha de edição, concentrado, calmo. Através do vidro identificava o mesmo olhar doce e tímido do primeiro dia. Invariavelmente pensava que "um dia", assim que tivesse um "tempinho" iria interromper o trabalho dele para um dedinho de prosa. Conversar sobre futebol, tentar relembrar uma época em que o trabalho me dava tanto prazer. Queria contar-lhes estórias vividas com aqueles colegas de trabalho dele que um dia também foram meus. Queria que soubesse que o ouvia a bastante tempo, que eu também ria com o "amigo Mário"...
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Só que eu por uma série de coisas que nem sei explicar, nunca fiz isso. Nunca bati naquela porta, nunca ultrapassei aquelas paredes de vidro por onde tantas vezes trocamos olhares, nunca tive essa conversa... E agora ficou o vazio. A cadeira vazia, a ilha sem ninguém, o silêncio da palavra não dita e a ausência definitiva daquele moço de olhar tímido e doce...
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Vai ser estranho não escutar mais sua voz. Sentirei saudades dos encontros por mim planejados das quintas-feiras e que agora jamais acontecerão.
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A gente não é dono da vida, mas insistimos na idéia boba de que temos todo o tempo do mundo à nossa disposição. Nesses dias ouvi tanta coisa bacana à respeito desse moço e minha torcida é para que os outros tenham tido tempo de terem dito tudo pessoalmente a ele, que não tenham negligenciado como eu fiz. Prefiro acreditar que ele partiu sabendo de tudo que os amigos achavam e sentiam por ele.
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Prefiro apenas acreditar que ele está lendo nesse momento essas minhas palavras e que, talvez, agora possa entender que aquele meu olhar tímido era também um olhar de admiração. E assim eu possa me desfazer dessa angústia que me invade.
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Abaixo um poema que era dele.
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Eu acredito num amor intenso
Tal a chuva que derrama a água prevista para o ano todo
Mas não para de cair depois
Um amor intenso
Sem regras...
Sem explicações
Um amor intenso
Que surge como se sempre tivesse existido
E vai além de uma paixão irrefreável
Vai além do sim, do não e do talvez
Um transbordamento de vida na alma
Acredito num amor intenso
Acredito em algo que estremece no primeiro olhar
E depois faz todo olhar ser como o primeiro
Algo que se espalha pelas madrugadas
Como se o Sol estivesse sempre nascendo ou se pondo
Acredito num amor intenso
Súbito...
Ainda que esperado...
Eterno...
Ainda que se cale...
Divino...
Mesmo que humano...
Eu só acredito no amor intenso!
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Andreson Falcão

5 comentários:

joao dionisio disse...

Laura, não entendi! Ele morreu ou foi demitido?

joão dionisio disse...

João Dionisio e suas gafes. Fui no Orkut e coloquei o nome de andresson na busca. Tava la, inteirinho o perfil dele preservado talvez por um bom tempo por uma senha que só ele sabia. É engraçado né? Ali eu pensei que ele tava vivo. De certa forma está. Tempos diferentes estes. Cavucando por lá encontrei isso e achei tão interessante:

Perguntaram ao Dalai Lama...

"O que mais te surpreende na humanidade?"

E ele respondeu:

"Os homens...Porque perdem a saúde para juntar dinheiro,depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro,esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
...e morrem como se nunca tivessem vivido.

Laura disse...

Pois é João... É como eu disse: me assusta essa nossa ingenuidade de pensar que temos todo o tempo do mundo, como se o amanhã sempre fosse existir por essas bandas... Aí a vida (e a morte) vem e te dá um tapa na cara, como que pra dizer que não é assim não. Não somos senhores de nada, apenas passageiros disso que chamanos vida. Sei lá... O fato é que eu nunca me dei bem com essa tal de morte. Queria saber lidar melhor com essa nossa única certeza, queria saber escrever sobre isso de forma mais leve, lúdica e até conformada, mas não tem jeito. Vendo o perfil de Andresson tive impulsos de excluir meu Orkut. Bem, deixa pra lá tanta morbidez. Mas não posso encerrar sem antes contar que seu primeiro comentário me fez soltar uma gargalhada! Só tu mesmo João pra me enterder. Não quis falar de morte, a ideia foi essa mesmo, deixar a dúvida, a esperança de que não fosse a morte. Ainda fiquei na dúvida em identificá-lo. Aprendi nas minhas aulas de literatura que não é legal expor quem não autorizou, mas resolvi colocar o poema que ele mesmo escrever e assim, então, divulgá-lo.
Well... Sou "Maluca", né? Como diria meu marido... hehehehe
Beijos

joao dionisio disse...

Laura, e eu que fiquei como um doido procurando onde é que eu podia apagar o primeiro comentário... pois eu sabia que ia provocar exatamente essa reação tua. Mas quanto a morte sou bem tranquilo. O que me preocupa mesmo é sofrer pra chegar até ela. isso sim me deixa temeroso pois ja tive experiência em casa. Mas depois que morre fufu. Até gostaria de deixar aqui registrado para Dr Drauzio que se quizer fazer um sarapatel dos meus orgãos, fique a vontade. Não vai me servir mais mesmo. Veja o lado bom da coisa: sem maiores burocracias eu teria direito imediato a tão sonhada casa propria do programaa do governo. Minha casa, minha vida. Vida?

joao dionisio disse...

Porque casa definitiva mesmo, só tem essa.